Quem me conhece sabe bem que são poucas as coisas que eu repudio mais que a revista Veja. E deixo claro que isso não acontece por ela defender os interesses da classe média ou por flertar com a direita, a esquerda ou qualquer dessas orientações ideológicas babacas. A repudio por extrapolar – por excessivas vezes – o que considero o bom jornalismo. Nem vou me dar ao trabalho de passear pela utopia chamada imparcialidade. Isso não existe, nunca existiu e nem existirá. Cada veículo de comunicação tem o seu dono e, logo, a visão desse pedaço de papel será a mesma que a do cara que está sentado atrás da mesa, fumando um charuto e escravizando seus funcionários. O bom jornalismo, no entanto, tem o dever de informar e, no máximo, dar a letra para que o leitor forme sua opinião.
Ontem e hoje fiz um exercício que me causaria uma crise de gastrite há alguns anos. Sim, li a Veja. Ou melhor, a parte dela que me interessava, no caso, a matéria que abordava alguns aspectos do filme “Tropa de Elite”. Não vi o longa, falha que espero corrigir ainda essa semana. E, apesar de tentado, não vou comprar a versão pirata. Confesso que a porção malandra do meu ego ficaria emocionada ao cometer tal contravenção, mas ainda prefiro ver filmes no cinema. Li a longa matéria e logo me lembrei de um caso ocorrido na semana passada, quando Diogo Mainardi julgou o trabalho de Wagner Moura (quase um Jack Bauer dos trópicos) baseado nas fotos dos cartazes promocionais do filme, o que me fez ler a coluna do fanfarrão de Ipanema. Mesmo não merecendo, Mainardi receberá umas linhas logo abaixo.
Ao terminar de ler a matéria, cheguei à conclusão de que a revista Veja merece sim ser lida, mas nunca levada a sério. Caso seja possível, nem a compre: leia a de um amigo ou tire xerox para ler no banheiro. A matéria que citei poderia até ser uma exceção ao que é visto nas páginas da semanal, até cair no maniqueísmo bobo de esquerda versus direita. É simples demais perceber que a solução nunca está em nenhum desses dois extremos. A esquerda pode romantizar a bandidagem (como acusa a revista), mas a direita já foi responsável por uma das páginas mais encardidas da história desse país (como sinaliza a História). Caso ideologia fosse a solução para o Brasil, prender bandidos seria uma atitude para sociólogos, não para policiais, assim como seriam distribuídos livros para acabar com a fome dos menos favorecidos.
Sempre admirei os ambidestros. Deve ser muito legal poder fazer as coisas normalmente com a mão que você bem entender. “Hoje eu vou escovar os dentes com a mão esquerda e escrever com a direita”, eu pensaria em um momento de deslumbramento com minhas habilidades quase sobre-humanas de ambidestro que não sou. Talvez a solução para o Brasil esteja aí, sem maniqueísmos tolos e sem brigas ideológicas. Ideologia é um negócio bom, mas que não deveria sair da mesa de bar.
***
Sobre Diogo Mainardi, alguns comentários. Não gosto nele e admiro sua capacidade de fazer eu gostar cada vez menos. Talvez por isso eu ache interessante ler as baboseiras que ele escreve na sua coluninha semanal, apesar de não fazer isso há saudáveis dois anos. Não gosto dele, mas hoje ele não me irrita mais. Talvez porque deixei de fazer algo que, ao que me parece, ele nunca fez: levá-lo a sério.
A indignação do sujeito chega a ser engraçada, dada a virulência com quem profere suas palavras, dignas de um discurso inflamado visto em manifestações xiitas no Oriente Médio. Por favor, contudo, não o levem a sério. E não sou daqueles que acham que só porque um cara é montado na grana ele não tem o direito de reclamar de nada. Tem sim e deve, principalmente porque sua condição social fará com que ele seja mais ouvido. O que não dá pra agüentar é um monte de cidadãos abastados criando movimentos tolos como o “Cansei”. O que esses “cansados” fazem pelo bem da sociedade? Atiram ovos em pessoas nas ruas?
Ainda na onda dos reclamões, temos o Luciano Huck. O narigudo estava em seu pleno direito de reclamar. Foi assaltado (ok, algo até certo ponto comum) e resolveu gastar uns minutos escrevendo um texto para um jornal. Texto esse que não me soou, em nenhum momento, pedante, elitista ou qualquer dessas coisas aí que já ouvi falarem. Li até o final e, contudo, não gostei por um motivo. Precisava dizer que o relógio era um Rolex? Caso fosse um “Cazio” comprado de um chinês no Stand Center, o assaltado não teria o direito de reclamar? Porque, até onde sei, o assaltante, quando aborda para uma “ação”, não dá uma de ourives para atestar a qualidade da jóia a ser roubada, da mesma forma que bala perdida não escolhe seu alvo baseada na renda das pessoas.
terça-feira, outubro 16, 2007
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14 comentários:
Rodrigo... Eu li o texto do Huck e pior lí o texto do Ferrez, que dizia que a culpa dos assaltos cabe empre a vitíma, no caso do narigudinho, por ostentar um relógio que tem o valor de quatro ou cinco casas na quebrada onde mora.
Cara e me parece que a imprensa embarbou nesta baboseira... É uma inversão de valores enorme onde o honesto é apontado na rua como exceção!
É a triste constatação de que pra alguns setores de nossa sociedade e cultura (hip-hop é cultura? de que? de violência, machismo e sexismo? usando o sufixo 'ismo' mesmo para designar patologia)é muito normal que o poste mije no cachorro...
triste.
Primeiro: a esquerda nunca e jamais é a favor de qualquer crime. O que a esquerda mostra é a origem do problema, e não simplesmente separa a sociedade em honestos e bandidos.
Não há maniqueísmo nessa história. São problemas sociais, a maioria deles causado pela exclusão capitalista.
No caso do filme, também não o vi e, caso veja, provavelmente acharei uma bobagem. Não pelo enredo em si, mas por opiniões de pessoas que já o assistiram e profere discursos como os do Luciano Huck.
Falando no narigudo, ele utiliza um tom pedante ao dizer algo no estilo "eu trabalho, pago meus impostos e tenho meus direitos". Logo de saída, isso é de um moralismo protestantista imbecil - moralismo esse que é base da sociedade norte-americana. Segundo que o argumento de "eu pago os meus impostos" é conversa. Como se só ele tivesse que pagar...
Abomino sim a posse. As pessoas não entendem que fomos criados assim para gerar demandas inexistentes. O que é ser bem de vida? Pra gente pode ser ter um Rolex, mas para o maninho que assaltou pode ser ter 50 conto por fim de semana pra tomar uma no bar.
Aí chegamos no texto do Ferrez. Ele não defende o crime. Ele mostra a realidade que nós não conhecemos. E por não conhecermos, voltamos à visão separatista de honestos e bandidos. Que bandido, cara-pálida? Particularmente, já vi mais bandido usando Rolex que cantando rap...
E Diogo Mainardi? Você só pode estar de brincadeira, Almeida...
Bom, duas coisas que eu queria deixar bem claras:
1 - não existe esse maniqueísmo que a Veja prega
2 - abomino Diogo Mainardi e seus seguidores...
Mas você gosta do Caio Tulio...
hahahhahahahahahahaha
Você é um fanfarrão, Japonês!
Cráudio, depoimento de um ex-esquerdista... A Esquerda só condena os crimes que ela não cometeu. Procure uma biografia do Che Guevara, que gosto de chamar carinhosamente de Che Quervara ou Gayvara e veja do que ele era capaz, assassinatos a sangue frio, execuções sem sentido e liderar pelotões para guerras que não eram dele e que ele não podia ganhar. Tanto que na Bolivia (chupa Bolivia)a própria polulação que ele disse que ia libertar o entregou aos militares do Governo e vai por mim, cantaram e dançaram quando ele foi executado.
Rodrigo!
Eu odeio o Mainard, e muito!
Quanto ao tal pedantismo do narigudinho, ora, veja. Se você rala pra caramba um mês inteiro e compra um tênis bacana, em um imbecil te pôe um cano na cara e leva teu tênis? Que você pensaria.
Guarde as devidas proporções. E me diga, será que prosperar em nossa terra é crime? Ofende aos outros? Usar um relógio de 30mil é ofensa a quem não pode comprar? Tenho um relógio de 3mil reais, não poderia comprá-lo, mas o tenho, não posso usá-lo então? Eu pago meus impostos, gostaria que eles se transformassem em educação, segurança e sáude. Pra mim, pra você e até pro Lara... (brincadeira)
E o Ferrez...Bem o que pensar de um cidadão que rima "não" com "dedão" e acha que o certo é usar um cano e não confiar na polícia. Até onde sei foi a polícia que ele correu quando roubaram o Palio dele...Em suma é um imbecil.
Ah! E a última. Tudo é imoral quando é pros outros. Fosse conosco...
é por isso que eu só leio a veja até a pagina gente. (de tras pra frente, seja bem entendido). Também odeio o Mainardi, mas acho q é por causa da sombrancelha.
Nada como provocar o nosso amigo calabrês do Oriente.
Ressaltando que não li a porra do artigo do Huck - e, portanto, não entendo a polêmica subseqüente -, que não leio a Veja e que, pelo pouco que sei, desprezo a figura de Diogo Mainardi, eis o que tenho a dizer:
1. Sou contra a maior parte das manifestações esquerdistas, em especial no que diz respeito à síndrome de perseguição de que é vítima o nosso amigo do Oriente;
2. Bandido bom é bandido morto! E não me venham falar que eu sou culpado porque trabalho e pago minhas contas enquanto vagabundo não consegue fazer o mesmo;
3. Pena de morte seria a única solução para casos selecionados. Mas aí vem os babacas dos direitos humanos e fazem merda atrás de merda. Vide o tal de padre Julio, cuja história, muito mal contada, só comprova que ajudar vagabundos dá nisso aí...
4. Odeio esse papo furado de "origem do problema", "exclusão capitalista" e "quem tem dinheiro é culpado pelo vagabundo de Itaquera que vem roubar o aparelho de som de um carro em Moema pra encher a porra do nariz de farinha". O caralho! Eu não sou culpado de nada! Se o cara quer se drogar, que se mate de uma vez. E não venha encher o meu saco. Morte é pouco pra um filho da puta desses...
5. De tudo o que pode se extrair de Tropa de Elite, o principal é aquele papo de que playboyzinho de merda metido a maconheiro é culpado pelo que ocorre nos morros cariocas. Maconheiro tem mais é que se foder!
6. Já escrevi demais... só peço pra não me encherem o saco com estes vagabundos e delinqüentes sem futuro...
Lara, acho você tão errado quanto a Veja.
Não vou falar sobre o conteúdo mas sobre a forma.
Claro, você é Jornalista e eu sou, digamos, um colaborador.
Um "teclador" sem diploma como vocês gostam de ressaltar.
Não, não sou advogado nem assinante da Veja, sou do tipo "banqueiro".
Tá na banca, interessa, compro.
A imparcialidade da matéria ou das opiniões são semelhantes aos comentários acima.
Os dois lados acham que o instrumento, ou você ou a Veja, estão defendendo determinado lado.
Só de causar essa controvérsia é meio caminho andado.
Um norte sobre opiniões e não um manual de instruções.
Temos que ter o cuidado de não ser a "velha" oposição que gritava, pois nunca tinha "sido" e hoje defende porquê agora pode!
Antes de nos tornarmos de direita ou de esquerda. De cima ou de baixo temos que aceitar os opositores. Nem que seja só de nossas idéias.
Acho que você consegue passar isso e repassar o que leu.
Eu gosto de ambigüidade. E acho que isso é o certo.
Lendo o Lara e lendo a Veja.
Interessante essa questão e, se consegui criar alguma polêmica, 150% das minhas intenções ao escrever esse texto foram atingidas.
Na minha opinião, o mais importante é fazer os outros pensarem e não passar dogmas que devem ser seguidos como se fossem a verdade absoluta.
Belo comentário e quem dera tivéssemos jornalistas assim.
Abs!
Caralho, só tem tucano e reaça aqui...
Barneschi, você é contra a esquerda porque se limitou a ficar conformado com o sistema no qual está inserido.
O tom do seu discurso - já disse antes - é o mesmo daqueles flavios prados que dia após dia combatem as torcidas organizadas. Até os termos são os mesmos.
E o que você chama de "mania de perseguição" eu credito como análise crítica dos fatos. Mentira em meus argumentos não há nenhuma.
O bandido só é bandido porque quer ser playboy. E ele quer ser playboy pelo mesmo motivo que nos faz comprar roupas novas, um tênis legal e um celular novo. A pergunta é: precisamos disso?
Bom todos nós sabemos que o Barney é um puta de um preybói. Mora na Zona Sul, viaja pra Europa uma vez por ano e gasta montanhas de dinheiro com cremes da Victoria's Secret...
Longe de mim querer insuflar o debate, entretanto...
Japonês,
Tem nego que já nasce bandido, com sangue ruim mesmo. Meu problema é com esses...
O cara do padre Julio é um bom exemplo, como vários outros por aí - não cabe ficar citando casos.
Entendo que é uma utopia tremenda defender o comunismo nos dias de hoje, mas respeito seu direito e até admiro a causa.
Mas o que eu queria saber é: que culpa eu tenho de não morar na favela? Só por causa disso pode vir um filho da puta e querer levar a porra do som do meu carro (que nem existe por causa disso)?
Abraços
risos... fazia tempo q não lai seu blog... ótimos comentários.
Quanta revolta não? rs
Abs, Amanda
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