quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Cerveja com Veja

Estava eu outro dia sentado numa mesa de plástico amarelo, em um boteco da região do Glicério, esperando uma amiga chegar. Veja é o nome dela. Fazia muito tempo que não nos encontrávamos e, ao caminhar pela Avenida Paulista no início da semana, acabei por avistá-la do outro lado da rua. Me chamou a atenção a camisa que ela vestia, com uma foto de um menino e uma frase, com os dizeres: "NÃO VAMOS FAZER NADA?".

Decidi então marcar um encontro com ela. Queria esclarecer a razão daquela pergunta. Logo vi que a foto era do menino João Hélio, a vítima mais recente da realidade violenta do nosso país. Esperei por 5 minutos, quando Veja finalmente chegou.

Nos cumprimentamos cordialmente. Ela trazia um semblante carregado, um misto de raiva e indignação. Logo perguntei a razão daquela frase e ela prontamente me explicou que queria uma solução para que esses crimes fossem punidos com o devido rigor. Vi sede de justiça, um olhar parecido com o de um cowboy que teve a família assassinada por algum vilão de western.

Ouvi pacientemente. Cada palavra. Cada sugestão para punir os criminosos desse país. Idéias que fariam tremer qualquer malfeitor metido a corajoso. E só. Terminou ali. Tentei discutir a razão que leva pessoas a tomarem tão bizarra atitude, mas ela não quis me ouvir. Além de cega de raiva, dizia estar com pressa. Para quê eu não sei. Mas saiu. E não pagou a sua parte da conta.

Me permito então responder à pergunta estampada em sua camiseta.

Vamos fazer algo sim, Veja:

Vamos discutir a origem do crime.
Vamos buscar soluções para a causa, não para a conseqüência.
Vamos tentar abrir os olhos e enxergar que há mundo além dos muros de nossas casas.
Vamos deixar um pouco de lado nossos interesses e pensar um pouco no todo.
Vamos aprender a ver qualidades em quem mais criticamos.

Resumindo: vamos fazer tudo que você não faz há anos, Veja.

Topa?

6 comentários:

Rodrigo Barneschi disse...

Velho,

Devo te confessar que não li esta edição da Veja - não leio nenhuma, mas não exatamente por qualquer ideologia. Fato é que esta não me chamou a atenção - como todas as outras.

Não sei, portanto, quais são os argumentos dela ou o que ela defende. Contudo, dá para ter uma idéia pelo seu texto.

Gostaria de fazer três (não tão) breves comentários:

1. Não é o seu caso aqui - longe disso -, mas me irrita sobremaneira aquele discurso de que "somos todos culpados por essa violência" ou "a culpa é da sociedade". Ok, não deixa de fazer sentido e só um alienado poderia discordar veementemente, mas o fato é que cansa um pouco essa pataquada. Até porque eu me recuso a ter qualquer culpa nessa história toda.

2. Ressalto o que sempre digo: sou francamente favorável à pena de morte em casos selecionados. E este último, vão me desculpar, é um destes casos. Filhos da puta como esses nasceram bandidos e não são vítimas do sistema porra nenhuma. Nasceram bandidos, destinados a fazer o mal, e a única solução é o fuzilamento. Solução para evitar que mais pais chorem a morte dos filhos e moral também. Não dá mais pra ficar com essa justiça de merda, que liberta os filhos da puta depois de poucos anos. Pra quê? Pra eles voltarem às ruas e acabarem com a vida de mais uma família? Não, obrigado. Prefiro que a vida deles chegue ao fim. Isso vale para estes filhos da puta e também para gente como Fernandinhos Beira-Mar, Marcolas e Champinhas da vida. Pra que mantê-los vivos? Só pra gastar o dinheiro do povo com o esquema de segurança necessário para evitar fugas? Ah, por favor...

3 (e mais importante). Brilhante o texto, especialmente pela forma que você encontrou para colocar sua opinião. Parabéns!

Rodrigo Barneschi disse...

Uma pergunta, por fim: você costuma freqüentar botecos do Glicério?

Unknown disse...

Brilhante seu comentário. Sobre a pena de morte, acho que o seu uso para "casos selecionados", comprovados e sem qualquer dúvida seria uma solução para não onerar a sociedade com quem só fez mal a ela. Mas creio que a sociedade brasileira não está preparada para esse tipo de medida.

O que poderia se fazer é tornar o cárcere o menos oneroso para a sociedade, fazendo presos produzirem algo, ao invés de apenas sugarem recursos e saírem da prisão piores do que entraram.

Mas, tirando casos selecionados, o crime surge por diversos fatores. Pobreza é só um deles.

Quanto ao boteco do Glicério, apesar da vontade de ir a um dos pólos mais tradicionais da boemia paulistana, nunca bebi lá. É um bairro que poderia ser revitalizado, com certeza!

Abraço

Sil S. disse...

Você anda sonhando demais com o Glicério.

Vanessa Leite disse...

(Aplausos)...
Apoiadíssimo...Faço de suas palabras as minhas...Você disse de maneira simples, o que estava engasgado na garganta ao ler esta edição...
Antes de tentarmos pagar com a mesma moeda, pensamos em entender o povo e a justiça do nosso país, para então decidirmos medidas que qualquer leigo sabe que não funcionaria no Brasil injusto e corrupto que temos...

"Não basta que seja pura e justa a nossa causa. É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós." (Che Guevara)

Anônimo disse...

belo texto! superou-se.